segunda-feira, 8 de agosto de 2011

WOODY E EU





Se você está sempre alegre e vê a vida como uma grande festa, não deve gostar do Woody Allen. Se você nunca pensa na morte ou questiona se Deus existe, não deve suportar o Woody Allen. Se você vê os relacionamentos amorosos como simples e descomplicados, não deve sequer saber quem é o Woody Allen. Bem, se você é assim, deve ser muito feliz, mas deve ser muito chato também. Para mim, a humanidade se divide em dois grupos: os que adoram o cineasta nova-iorquino e... os outros. Os primeiros contam com todo o meu respeito, carinho e admiração; quanto aos outros, merecem ir para um campo de concentração, a pena de morte ou, pior, ouvir música sertaneja. Para mim, acima do Woody só Deus. Como Deus não existe...
Tenho até o autógrafo dele - do Woody, não do Criador. Em 1999, gastei todas as minhas economias e fui a Nova York só para vê-lo e ouvi-lo tocar clarinete com sua banda de jazz estilo New Orleans. (Aproveitei que estava por lá e passeei um pouquinho, é verdade.) Depois de dar autógrafos para dezenas de fãs, Woody estava indo embora quando eu, suplicando, gritei: “Please!”. Ele então voltou e assinou no meu guardanapo de papel, com o qual quero ser enterrado - junto com a bandeira do Flamengo, é claro. Aliás, quando emprestei a ele a caneta – que até hoje não me foi devolvida -, acho que esbarrei com a minha mão direita na mão esquerda dele. Acho que foi sem querer. Acho que Freud diria que foi de propósito, assim como minha analista. Acho que eu também. Bom, a única coisa certa é que, desde então, numa mais lavei essa mão.
Woody nega que seus filmes sejam autobiográficos. Ele está certo, seus filmes não retratam a vida dele, retratam a minha – embora nem ele nem ninguém saiba disso. Claro que o que aparece na tela não é uma cópia fiel da minha vida, é apenas uma caricatura dela, o que, por sinal, a faz parecer mais engraçada e mais interessante. ‘Tá bom, sendo menos egocêntrico, reconheço que, além de mim, milhões de pessoas em todo o mundo se identificam com o seu personagem neurótico.
Com Woody, aprendemos a rir de nós mesmos – de nossas falhas, medos e inseguranças – e, assim, conseguimos suportar melhor a dor da existência. Quantas vezes, triste, recorri a seus filmes para me alegrar! Revendo os mesmos filmes, rindo das mesmas piadas. Woody, misturando como ninguém humor com lirismo, mostra como nós, seres humanos, somos tão ridículos, frágeis e desamparados, e, ao mesmo tempo, nos faz acreditar, pelo menos por um instante, que a vida pode ser bela e romântica, cheia de música, magia e fantasia.

02/10/2010

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