segunda-feira, 8 de agosto de 2011

REJEIÇÃO





Ocupada demais? Sem tempo para nada? Muito grata pelo convite, mas infelizmente não pode? ‘Tá bom, já entendi, você não gostou de mim. Mas que mania irritante que as pessoas têm de serem tão educadas e não falarem o que realmente pensam! Se você fosse sincera, Aurora, teria dito algo assim: “Sair com você?! Que absurdo! De onde você tirou essa ridícula ideia de que alguém como eu sairia com alguém como você?! Se enxerga!”
Mas não fiquei triste. Nem um pouco. Depois de 117 rejeições este ano – e ainda estamos em junho -, a gente se acostuma. Além disso, vou passar o dia dos namorados com a pessoa que mais amo no mundo e que nunca me abandona, ou seja, eu mesmo. Tampouco senti raiva. A carta-bomba, juro, não era para você. Não sou, de maneira alguma, uma pessoa violenta. O que aconteceu foi que troquei, por engano, os endereços, e o general Waldick, meu adorável vizinho do 505, foi quem acabou recebendo as flores e o cartão com o poema erótico. Freud explica... mas talvez Alzheimer explique melhor ainda. Devo acrescentar que, depois de quinze anos de análise, aprendi a lidar muito bem com a rejeição - desde que, é claro, o rejeitado não seja eu.
Pensando bem, foi até bom; afinal, não combinamos em nada. Você acha o Woody Allen um chato depressivo e nunca viu Um corpo que cai, do Hitchcock. Adorou Marimbondos de fogo, do José Sarney. Acha Nelson Rodrigues um tarado sem-vergonha e não consegue ler Dom Casmurro, pois invariavelmente cai no sono. Nunca ouviu falar no Ruy Castro. Detesta Bossa Nova e pensa que Antônio Carlos Jobim é só o nome do aeroporto. Acredita em Deus, anjo da guarda, horóscopo e Lacan. E, pior do que tudo, não é Flamengo. Não tinha mesmo como dar certo!
Pois é, as uvas estavam verdes – e seus lindos olhos também. Mas você é tão bonita que quis acreditar que os opostos se atraem – da mesma forma que finjo acreditar que é dos carecas que elas gostam mais.

08/06/2011

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