terça-feira, 18 de outubro de 2011

TÚMULO DO AMOR

 




Através dos tempos, tivemos os inquisidores da Idade Média, os nazistas, os stalinistas e os torturadores do regime militar brasileiro, entre muitos outros de não muita saudosa memória. Mas, em termos de crueldade, ninguém supera as ex-esposas.
Infelizmente meu inexorável destino era mesmo ser vítima da crueldade delas. Afinal, enquanto grande parte das pessoas sonha em se casar um dia, desde criança o meu desejo sempre foi me divorciar. Tendo assistido de camarote ao desastroso casamento dos meus pais, separados apenas pela morte, o divórcio tornou-se uma obsessão para mim. Eu precisava ir além, realizar o que meus pais jamais conseguiram. Jurei para mim mesmo que me divorciaria pelo menos uma vez na vida, ainda que, para isso, fosse preciso antes me casar!
Se foi só por isso que me separei de minha terceira esposa? Não, claro que não. Quem me dera! Você quer que eu liste os 117 motivos em ordem alfabética, cronológica ou de gravidade? ‘Tá bom, não vou falar em todos, contarei apenas dois ou três fatos. Por exemplo, eu esperava ouvir dela frases como “eu te amo”, “estou com saudades” ou, pelo menos, “o jantar está na mesa”. Até ouvi essas coisas no primeiro ano, mas depois ela só me dizia “você não faz nada direito!” - e ainda falava que eu não deveria encarar essa observação como uma crítica. Além disso, parecia que o que dava mais prazer a ela na vida era me irritar. A princípio, tentava fazer isso xingando minha mãe. Mas, como eu fazia coro com os xingamentos, ela então apelava, falando mal do Flamengo. Aí não dava para aguentar!
O fim mesmo do nosso casamento foi quando, no auge da raiva, ela me disse aos berros: “Você não é o Woody Allen!”. Até hoje não entendi bem o que ela quis dizer com isto, mas, mesmo assim, me senti profundamente ofendido. Só sei que havia muito tempo que ela não achava mais graça nas minhas piadas. Assim, confrontado com a minha própria mediocridade pela pessoa que, supostamente, deveria me amar e admirar, percebi que estava tudo acabado. Quando, num relacionamento, o humor vai embora, o amor segue o mesmo caminho. Ou vice-versa.
Mas não vou ficar aqui difamando a mãe do meu filho. Ela é, sem dúvida, uma mulher de grandes qualidades. Por exemplo, adora estudar. Entrou para diversas faculdades: física, direito, medicina, história, teologia e, novamente, direito. (Pois é, eu não faço nada direito, mas, volta e meia, ela faz...) Terminou algumas, outras não, mas está sempre estudando. Como exigir que uma mulher que estuda tanto – e que sabe tão bem o que quer na vida – ainda arrume tempo para trabalhar?!
Mas o pior ela me reservou para após o fim do casamento, ao publicar um livro em que conta todas as intimidades de nossa vida em comum, revelando ao mundo as minhas piores manhas, manias e esquisitices. (A Scarlett Johansson deve ter lido e ficado chocada. Só isto explicaria o fato de ela não ter respondido nenhuma das 117 cartas de amor que enviei para ela.)
Pois é, como disse Nietzsche, o casamento é o túmulo do amor. E se você, meu amigo, não quer ter uma ex-esposa, nunca se separe ou, melhor ainda, nunca se case. Contrair matrimônio é contrair a pior das doenças, que não se cura nem com o divórcio. Não dizem que ex-mulher é para sempre?

18/10/2011