segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O ANTIFACEBOOK




A recente notícia de que o Facebook foi avaliado em 50 bilhões de dólares inspirou-me uma nova e revolucionária ideia. Mas fique tranquilo, caro leitor. Sei que no passado tive algumas ideias um pouco extravagantes, como aquela de fundar uma religião, na qual eu seria Deus. Porém não tenho dúvidas de que tudo vai dar certo agora. Vou criar uma rede social na internet que vai competir com o Facebook e, em pouco tempo, desbancá-lo. Ela vai se chamar Antifacebook, pois em tudo vai ser o oposto do Facebook. Deixe-me explicar como veio essa minha extraordinária inspiração.
No passado, quando me sentia triste e sozinho, eu entrava repetidamente no Facebook para, de alguma forma, aplacar minha solidão. Lá, via nos álbuns de fotos dos meus amigos imagens de viagens fantásticas à Europa, passeios em praias paradisíacas do Nordeste, festas dionisíacas, além de abraços e beijos cheios de amor e volúpia. Todos invariavelmente sorrindo. Aí eu ficava mais deprimido ainda! “Por que a minha vida não é assim?”, me perguntava. Já é duro nos sentirmos infelizes, mas, diante da felicidade dos outros, nossa dor se torna ainda mais profunda.
Num belo dia, de repente, não mais que de repente, tive uma súbita revelação. Pensei: “Não é possível que todos os meus amigos, sem exceção, sejam assim tão felizes. Não acredito que haja no mundo tanta gente alegre ao mesmo tempo. Mesmo que todos tomassem diariamente um coquetel de medicamentos contendo Prozac®, Ritalina®, Rivotril® e Viagra®, não poderia haver tanta felicidade coletiva. Nem mesmo se o Flamengo fosse campeão mundial todo santo dia!” Aí veio a minha grande sacada. Compreendi que as pessoas, no Facebook, só mostram os seus melhores momentos, como num compacto de uma partida de futebol na TV. O que é chato, sem graça, vergonhoso ou triste fica de fora das fotografias.
Como então vai ser o meu Antifacebook? Nele vamos ver a vida como ela é, sem disfarces, sem maquiagem. Por exemplo, digamos que morra a avó de uma amiga minha. Aí ela criaria o álbum O funeral da vovó. Nele haveria imagens da defunta em close dentro do caixão, das coroas de flores, da família inteira da velhota chorando copiosamente. E se um amigo descobrisse que foi traído pela esposa e decidisse se matar? O álbum se chamaria Minha tentativa de suicídio. Teríamos fotos dele cortando os punhos, do tapete da sala todo ensanguentado, do motorista louco da ambulância, do hospital público caindo aos pedaços e ainda do médico - com cara de sono, pau da vida por ter sido acordado no meio da noite para dar pontos naquele desgraçado. Meu amigo poderia também fazer outro álbum, Minha mulher e o amante, recheado de fotos apimentadas tiradas no motel.
Como tenho tanta certeza do sucesso do Antifacebook? É elementar, meu caro leitor. Vou ficar bilionário porque, no mundo real, tristeza não tem fim, felicidade sim. Pode me chamar de pessimista, mas, para mim, alegria é exceção neste planeta. As pessoas reais, infelizes que são na maior parte do tempo, vão acessar o meu Antifacebook e, vendo a infelicidade dos outros, vão pensar: “Nossa, que sofrimento! Até que a minha vida não é tão ruim assim”. Vão ficar viciadas na nova rede social! Nada como a desgraça alheia para nos alegrar...
Se vou me tornar uma pessoa feliz quando for bilionário? Claro que não! Você não presta atenção no que eu digo?!
09/01/2011

3 comentários:

  1. Acabas de ganhar um sócio! Sem capital, claro, trabalhando...Forte abraço, Marcio Astrachan

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  2. Esse é o meu orientador!rs
    Mordaz...Jung diria que o Antifacebook equivale à Sombra,contrapondo-se à Persona do Facebook.rs
    Parabéns!
    Abcs,
    Luciana Angélica

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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