Caros amigos,
Gostaria de agradecer a
vocês as felicitações que me enviaram pelo meu aniversário, na semana passada,
quando completei 117 anos. De fato, não é qualquer um que chega a essa idade.
Mas, como vocês sabem, não sou qualquer
um.
Aproveito para dizer que já
começo a pensar em me aposentar. Acho que mereço algum descanso, depois da
enorme contribuição que dei à humanidade. Não nego que tive algum
reconhecimento. Ter sido eleito para a Academia Brasileira de Letras e recebido
os prêmios Nobel de literatura e de medicina, o Oscar e a Bola de Ouro da FIFA
- além do Estandarte de Ouro - são provas de que me deram algum valor. Contudo,
para ser sincero, acho que eu merecia bem mais do que isso.
Minha obra literária começou
bem cedo, quando eu ainda cursava o ginásio. A professora mandou que lêssemos Dom Casmurro, de Machado de Assis, e
fizéssemos uma redação discutindo se Capitu tinha ou não traído Bentinho. No
texto, argumentei que essa questão não tinha a menor importância e que a graça
do romance estava justamente na dúvida quanto à inocência ou culpa da
personagem dos “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”. Esse meu trabalho é
hoje considerado um dos mais importantes ensaios da nossa literatura e, por si
só, abriu-me as portas da Academia Brasileira de Letras.
Na ABL, é um enorme prazer
tomar chá com os outros imortais. Especialmente com o José Sarney, autor do
maravilhoso Marimbondos de fogo e um
dos nossos maiores escritores – acima dele só Deus, Machado de Assis e eu, não
necessariamente nessa ordem. Sarney, este sim, é um imortal: saiu da
presidência da República deixando uma inflação de mais de 80% ao mês e está
cada vez mais vivo na política brasileira.
O meu maior best seller foi O Antifacebook, baseado num blog
de crônicas que eu escrevia quando era jovem. O livro fez tanto sucesso que foi
adaptado para o cinema por Hollywood. Chamaram-me para escrever o roteiro do
filme, o que me valeu o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas
naquele ano. Como o livro – e o filme – era baseado na minha vida, o lógico
seria que o ator que viesse a interpretar o meu papel fosse fisicamente
parecido comigo. Assim, sugeri o nome do Brad Pitt, mas – até hoje não sei o
porquê – o produtores preferiram o Woody Allen.
Minha pesquisa na medicina
abordou a obra de Sigmund Freud. Por meio de um artigo publicado na Science, comprovei que o pai da psicanálise estava certo. Anos
mais tarde, revi meu ponto de vista e, na Nature,
demonstrei que ele estava errado. Mais recentemente, na Neuro-psychoanalysis, voltei a apoiar as ideias de Freud. Agora, já
com a medalha com a efígie de Alfred Nobel no peito, posso confessar que estou
novamente em dúvida sobre essa questão. Espero que não me peçam para devolver a
medalha, muito menos os 10 milhões de coroas suecas.
Nem todo o mundo sabe, mas
antes de iniciar minha carreira na medicina, fui um grande ponta-direita do
Flamengo – numa época em que ainda existiam pontas no futebol. Para calar os
que criticaram a minha escolha como o melhor jogador do mundo, vou fazer uma
importante revelação, algo que a minha extraordinária modéstia sempre me fez
esconder. Há pouco tempo, ganhei de presente de minha aluna Patrícia um
exemplar do livro Zico conta a sua
história, com um autógrafo do Galinho e uma dedicatória para mim. Ele
escreve assim: “Ao professor Elie”. Viram? Ao professor! Agora vocês sabem quem o ensinou a jogar bola!
Mas a minha vida não se
limitou ao trabalho. De fato, a minha vida amorosa também sempre foi bastante
rica. Parei de contar o número de mulheres que tive quando chegou a 117 – e
nessa época eu nem era mundialmente famoso ainda. Para satisfazer um pouco a
curiosidade de vocês, posso dizer que são verdadeiros os rumores publicados na
imprensa de que eu estaria agora namorando, ao mesmo tempo, a Penélope Cruz e a
Scarlett Johansson – além da vizinha cujo quarto dá de frente para a janela do
meu apartamento.
05/03/2011
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