Vários amigos –
especialmente aqueles dois ou três que me acham um bom professor - me perguntam
quando começou meu gosto pelo ensino. Na verdade, diferentemente do que muitos
pensam, não foi durante o meu primeiro ano de residência médica, quando o
professor Paulo Pavão me convidou para ministrar aulas de psicopatologia para
os internos da psiquiatria da UERJ. Não, minha vontade de ensinar começou bem
mais precocemente.
Começou quando eu tinha uns
dezesseis anos e ainda cursava o segundo grau. Na época, eu era apaixonado por
uma colega de turma chamada Deise. Eu a achava lindíssima e muito parecida com
a Brooke Shields, por quem eu também era apaixonado e que aparecia seminua no
filme A lagoa azul, grande sucesso
entre os adolescentes de então. Volta e meia Deise, toda sedutora,
aproximava-se de mim e dizia “me explica”, pedindo para eu lhe tirar as dúvidas
das matérias do colégio. O modo como ela falava “me explica” era irresistível!
Quem era eu para dizer não à Brooke
Shields?! Claro que o meu raciocínio era o seguinte: eu daria a ela
conhecimento e, em troca, receberia... sexo. Exatamente nesse momento, nasceu
meu gosto pelo ensino. Pensando bem, na verdade o meu gosto pelo ensino era
para ter morrido ali, pois não ganhei um beijinho sequer. Em contrapartida, burrinha
que só ela, Deise também não conseguia entender quase nada do que eu lhe
explicava. Contudo, ela acabou passando de ano, pois, além de ter um grande
talento para a sedução, ela também era muito boa em colar nas provas. Colava
não só de mim, mas também de outros rapazes, tão ingênuos quanto eu.
Revendo as fotos do colégio,
percebo agora que Deise não era tão bonita e não se parecia em nada com a
Brooke Shields, a qual, por sua vez, não chega aos pés da Scarlett Johansson,
minha musa atual. Mas meus olhos adolescentes viam toda a beleza do mundo e
toda a esperança de felicidade em Deise – e na Brooke Shields também.
Por onde andará Deise?
Casou-se com um milionário? Seguiu seu talento natural e virou garota de
programa? Desistiu da vida e se mudou para Portugal? Não faço a menor ideia. Eu
é que, pelo menos metaforicamente, me vejo no mesmo lugar.
Sim, no mesmo lugar, pois,
na carreira acadêmica, continuo explicando as coisas, na esperança de receber
das outras pessoas algo valioso em troca. Não mais sexo, mas, agora, atenção e
afeto. Em que outra situação na vida que não quando estou fazendo uma palestra
ou ministrando uma aula tantas pessoas ficariam tanto tempo ouvindo o que tenho
a dizer? Minha ex-analista, reconheço, me escutou por quinze anos... mas somente
porque eu pagava uma fortuna a ela.
Encontro-me no mesmo lugar
também porque continuo a me apaixonar a torto e a direito. Um pouquinho de
atenção ou um simples sorriso já me fazem ver toda a beleza do mundo e toda a
esperança de felicidade no outro. Pois é, já não tenho mais muito cabelo,
preciso de óculos para ler e sinto dores na coluna lombar, no entanto continuo
a ter dezesseis anos.
15/11/2011