domingo, 7 de agosto de 2022

ABAIXO A BAIXOFOBIA!

 

“Desde que começamos a sair juntos, nunca mais usei salto alto”, disse-me ela, na expectativa de que eu, em seguida, expressasse profunda gratidão. Ela acreditava que estava me fazendo um grande favor, só que o fato de ser mais alta do que seu namorado causava constrangimento apenas a ela. Eu, ao contrário, estava muito feliz ao lado daquele mulherão, felicidade essa que acabou quando ela me trocou por um jogador de basquete da NBA.

“É dos carecas que elas gostam mais”, porém dos baixinhos as mulheres só querem distância. Entre os últimos 100 “nãos” que recebi, 117 foram por causa da minha baixa estatura. Os políticos corruptos são perdoados, os assassinos seriais e psicopatas fascinam as pessoas, mas os baixotes sempre foram e sempre serão cancelados pela sociedade. Seria paranoia minha? Mania de perseguição? Autoestima baixa? Vejamos.

O galã do cinema Tom Cruise, nas filmagens, não dispensa sapatos de salto alto ou plataformas para disfarçar sua baixa estatura, o que, mais antigamente, já fazia Humphrey Bogart. Hoje em dia já não é mais segredo que Santos-Dumont cometeu suicídio e que Machado de Assis era negro, mas poucos ousam revelar que eles eram muito baixinhos.

Todo o preconceito contra os baixinhos se expressa na nossa linguagem do dia a dia. Baixarias e golpes baixos são considerados comportamentos reprováveis. Ninguém quer que seu time seja rebaixado para a segunda divisão. É melhor pertencer à alta sociedade do que ao baixo clero. É preferível estar com alto-astral do que pra baixo. Nas baladas, as pessoas bebem para ficarem “altas”. Receber alta hospitalar é motivo de alegria para o enfermo e sua família, contudo receber baixa das Forças Armadas pode representar uma grande desonra. Um rei é chamado de “vossa alteza”. E, por fim, altivez é um belo sentimento, que merece ser enaltecido por todos.

Pois é, vivemos em um mundo em que o valor de um homem se mede em centímetros. No entanto, no peito dos baixinhos “também bate um coração”. Assim, para enfrentar toda essa discriminação contra nós, que é estrutural, proponho que seja criado um sistema de cotas. Por exemplo, a cada 1000 namorados da Scarlett Johansson, 117 deveriam ser baixinhos. E um deles deveria ser brasileiro, morador de Copacabana, torcedor do Flamengo, psiquiatra e, principalmente, fã do Woody Allen, o baixinho mais genial que já existiu.

 06/08/2022