segunda-feira, 19 de setembro de 2011

DEUS EXISTE!





“Fotos de Scarlett Johansson nua caem na internet” foi a manchete que vi no site de notícias. Meu primeiro pensamento foi: “Deus existe!”. Vendo as fotos e tomado por fortes emoções, outra ideia me veio à mente: “Deus existe mesmo!!!”. De fato, pensei ainda, só Deus seria capaz de criar algo assim tão maravilhoso.
Todavia, depois que a poeira – assim como outras coisas - já tinha baixado, voltei ao meu racionalismo habitual e reassumi meu ateísmo fervoroso e praticante. Afinal, se existe uma Scarlett Johansson, existem no mundo milhões como a Angela Merkel, chanceler da Alemanha, sutilmente classificada pelo Berlusconi como “bunduda incomível”. Se existiu um Tom Jobim, existem milhões de duplas sertanejas. Se existiu um Mahatma Ghandi, existem milhões como o Berlusconi ou mesmo o general Waldick, meu adorável vizinho do 505. E por aí vai... Conclusão, se existe um criador, ele não é tão eficiente assim. De vez em quando acerta, mas, na grande maioria das vezes, só faz burradas. O mínimo que se poderia esperar de Deus seria a perfeição.
Claro que, se eu estivesse vendo neste momento a Scarlett aqui em casa, peladona e sorrindo para mim, aí sim teria uma prova inequívoca da existência de Deus. Ou, mais provavelmente, uma prova inequívoca da perda da minha sanidade mental. Mas, como nem o milagre nem a alucinação ocorreram, continuo um incrédulo.
Mas a minha fé no ateísmo não me impede de respeitar as religiões e, principalmente, os sentimentos religiosos. Assim, fiquei entusiasmado em participar ontem da 4ª Caminhada em defesa da liberdade religiosa, na praia de Copacabana. Não havia como eu deixar de apoiar um movimento que prega a tolerância mútua entre as várias religiões, as quais através dos tempos serviram – e ainda servem - como justificativa para tantas guerras. Senti-me totalmente identificado com a ideia de liberdade religiosa, pois, para mim, isto deveria incluir não só a possibilidade de cada um escolher a religião que quisesse, mas também o direito de escolher não ter nenhuma religião e não acreditar em Deus - e não ser discriminado por isso. Que ingenuidade a minha!
Cheguei lá na caminhada, todo animado, vestindo uma camiseta com a inscrição “Ateu, graças a Deus”. Mas parece que fui mal compreendido. Depois de inúmeros olhares ameaçadores e insultos à minha querida mãezinha, tive que sair correndo para não ser vítima do primeiro linchamento ecumênico da História. Contudo, apesar do susto, pude ver um lado positivo nesse episódio: pelo menos ele me fez recordar a minha doce e saudosa infância, quando meus pais momentaneamente paravam de brigar um com o outro e se uniam contra mim.


19/09/2011

sábado, 17 de setembro de 2011

AUTOESTIMA





Após uma argumentação minha a respeito de uma questão científica, recebo esta afetuosa réplica de um colega:

... Sou hoje, certamente, o maior divulgador dos ensinamentos do professor Fulano de Tal... Parece que você não entendeu nada do que disse Sicrano, se é que o leu... O que eu disse, e reafirmo, é que o trabalho primoroso de Sicrano tem hoje valor estatístico, o resto é resto; a minha prática de mais de quarenta anos o comprova...

Woody Allen diz que no show business é cobra comendo cobra ou, pior, cobra não retornando os telefonemas de outra cobra. Parafraseando meu ídolo, eu diria que na carreira acadêmica é cobra comendo cobra ou, pior, cobra não respondendo as mensagens eletrônicas de outra cobra. Depois da resposta do meu adorável colega, senti saudade do tempo em que as minhas mensagens eram simplesmente ignoradas.
Só quarenta anos de experiência psiquiátrica?! Pensei que fosse muito mais tempo, pelo menos o triplo! Mas, sinceramente, sinto uma enorme inveja do meu querido colega. Inveja, sim, juro por Deus! Ele ministra aulas sobre assuntos dos quais nada entende, tem ideias mais anacrônicas do que concurso de miss Brasil, fala descarrilhamento em vez de descarrilamento e usa mim para conjugar verbos – “para mim falar”, “para mim fazer” etc. No entanto, ele se acha o máximo... Como eu queria ter essa autoestima!
Se eu fosse psicanalista – e, por acaso, eu sou -, diria que inconscientemente ele sabe o quanto é medíocre e que sua arrogância é o resultado de um mecanismo de defesa que o impede de se ver como é. Se eu fosse psicopatólogo – e, por acaso... deixa pra lá -, diria que se trata de um delírio compensatório numa psicose enxertada. Mas o que importa? Essa defesa está funcionando para ele, que realmente acredita ser o príncipe herdeiro de um grande mestre em nossa área. A autoilusão é uma benção, a autoilusão é a chave para a felicidade!
O que me angustia é que sou exatamente o contrário. Todos dizem que sou lindo, brilhante e maravilhoso, mas não consigo acreditar. Bem, para ser sincero, ninguém fala nada disso sobre mim, mas, se falassem, eu também não acreditaria. Adoro receber elogios e, quando passo mais de uma semana sem ouvir algo positivo ao meu respeito, entro em crise de abstinência e penso em suicídio. Os elogios me fazem bem, mas jamais acredito neles. Sempre penso que a outra pessoa está apenas querendo ser gentil e simpática ou então exagerando. Porém, ruim com os elogios, muito pior sem eles...
Depois que três namoradas me disseram que eu tinha mãos bonitas, até cheguei a considerar, num primeiro momento, que pudesse ser verdade. Mas aí pensei: “Só elogiam as minhas mãos! Então o resto do meu corpo é para jogar no lixo?!”. Depois fiquei imaginando que pudesse ser uma figura de linguagem: ter mãos bonitas significaria escrever bem. Mas claro que isso não corresponde à realidade. Escrever bem é o que faziam ou fazem Machado, Nelson Rodrigues, Vinicius, Drummond, Chico Buarque, Ruy Castro e Sarney – este não, me enganei, apaguem.
Assim, não consigo entender o que você viu em mim. Melhor pedir para o seu psiquiatra aumentar a dose do antipsicótico. Ou então não. Continue a dizer coisas bonitas no meu ouvido. Prometo que um dia vou acreditar.
17/09/2011



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

ORIENTAÇÃO DE MESTRADO





Recebi de uma aluna a seguinte mensagem:

Elie, por favor, não me olhe mais com essa cara de "terminou de escrever o artigo?"!

Respondi:

Cara Luciana,
Se eu fosse psicopatólogo – e, por acaso, eu sou -, diria que você está apresentando uma ideia deliroide de autorreferência, de base interpretativa.
Se eu fosse psicanalista – e, por acaso, eu sou -, diria que você está projetando em mim seu sentimento de culpa.
Se eu fosse seu amigo – e, por acaso, eu sou -, diria que compreendo, que você pode ficar tranquila e não se preocupar.
E, se eu fosse seu orientador – e eu também sou -, diria para você parar de frescura e escrever logo essa p...!!!

 12/09/2011