domingo, 13 de novembro de 2011

MINHA QUEDA POR "UM CORPO QUE CAI"





Ao longo de minha vida, apaixonei-me por diversas mulheres – entre elas, a Scarlett Johansson -, por um livro – Dom Casmurro, de Machado de Assis -, por uma canção – Chovendo na roseira, de Tom Jobim -, por um time de futebol – nem preciso dizer qual – e por um filme.
Um corpo que cai (Vertigo, no original) é o meu filme favorito. Para começo de conversa, é dirigido por Alfred Hitchcock, meu cineasta preferido. Mas não o considero apenas o melhor filme do velho Hitch. Um corpo que cai, para mim, é o melhor filme de todos os tempos.
Assistir a Um corpo que cai pela primeira vez foi um momento mágico, inesquecível. Isso foi em 1984 e tinha eu uns dezenove anos. Já era fã do Hitchcock e já tinha assistido a Psicose, Intriga internacional, Os pássaros, Janela Indiscreta, entre muitos outros. Não imaginava, então, que o mestre do suspense pudesse ter feito algo ainda melhor. Mas fez. O filme estava passando no antigo cinema Veneza, em Botafogo, que não existe mais. Fui com meu amigo de adolescência Heraldo, meu amigo até hoje. Lembro-me de que saí do cinema extasiado, inebriado, como se estivesse ainda dentro de um sonho. Preferi retornar para casa a pé, embora tivesse que andar uma boa distância – e ainda atravessar um túnel -, para que a transição de volta para o árido e cruel mundo real pudesse ser mais lenta e, assim, menos brutal.
Quando Um corpo que cai foi lançado, em 1958, não fez muito sucesso, nem de crítica nem de bilheteria. Todavia, décadas depois, é figurinha fácil nas listas dos dez maiores filmes de todos os tempos. O que tem de tão especial nesse filme? Não sei explicar bem, para mim é algo muito pessoal. Não importa quantas vezes eu o tenha visto - pelo menos uma dúzia até agora -, sempre fico emocionado quando o revejo. Recentemente, eu estava participando de uma mesa-redonda, sobre cinema e saúde mental, quando uma colega, em sua apresentação, exibiu em vídeo a cena do suposto suicídio da suposta Madeleine (Kim Novak), supostamente saltando do alto da torre na antiga aldeia espanhola. Ainda bem que as luzes estavam apagadas e ninguém percebeu meus olhos marejados – eu suponho.
Mais do que um filme de suspense ou de mistério, Um corpo que cai é uma história de amor. Foi impossível para mim – e, penso eu, para qualquer espectador – não me apaixonar por Kim Novak e não me identificar com o voyeurismo de Scottie (James Stewart). Claro que o amor de Scottie por Madeleine é patológico, doentio e triste. Ele se apaixona por alguém que não existe, Madeleine, e se recusa a gostar da mulher real, Judy (também Kim Novak). E, além disso, tenta transformar a mulher real na idealizada, dando uma de Pigmalião, que, na mitologia grega, esculpiu a mulher perfeita e ainda se casou com ela.
A mensagem pessimista é que talvez toda paixão amorosa seja assim, um estado psicótico em que projetamos no outro somente coisas boas. Depois nos casamos com o ser amado e logo descobrimos que nada daquilo era real. Será que Pigmalião pediu a Afrodite que transformasse Galateia de novo em estátua, porque esta não parava de falar? Será que Pigmalião e Galateia acabaram se divorciando? Será que eu enjoaria da Scarlett Johansson?
A mensagem otimista é que Kim Novak era linda, Hitchcock era um gênio e Um corpo que cai será sempre um grande filme!
13/11/2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário