“Fotos de Scarlett Johansson
nua caem na internet” foi a manchete que vi no site de notícias. Meu primeiro pensamento foi: “Deus existe!”.
Vendo as fotos e tomado por fortes emoções, outra ideia me veio à mente: “Deus
existe mesmo!!!”. De fato, pensei ainda, só Deus seria capaz de criar algo
assim tão maravilhoso.
Todavia, depois que a poeira
– assim como outras coisas - já tinha baixado, voltei ao meu racionalismo
habitual e reassumi meu ateísmo fervoroso e praticante. Afinal, se existe uma
Scarlett Johansson, existem no mundo milhões como a Angela Merkel, chanceler da
Alemanha, sutilmente classificada pelo Berlusconi como “bunduda incomível”. Se
existiu um Tom Jobim, existem milhões de duplas sertanejas. Se existiu um
Mahatma Ghandi, existem milhões como o Berlusconi ou mesmo o general Waldick,
meu adorável vizinho do 505. E por aí vai... Conclusão, se existe um criador,
ele não é tão eficiente assim. De vez em quando acerta, mas, na grande maioria
das vezes, só faz burradas. O mínimo que se poderia esperar de Deus seria a
perfeição.
Claro que, se eu estivesse
vendo neste momento a Scarlett aqui em casa, peladona e sorrindo para mim, aí
sim teria uma prova inequívoca da existência de Deus. Ou, mais provavelmente,
uma prova inequívoca da perda da minha sanidade mental. Mas, como nem o milagre
nem a alucinação ocorreram, continuo um incrédulo.
Mas a minha fé no ateísmo
não me impede de respeitar as religiões e, principalmente, os sentimentos
religiosos. Assim, fiquei entusiasmado em participar ontem da 4ª Caminhada em defesa da liberdade
religiosa, na praia de Copacabana. Não havia como eu deixar de apoiar um movimento
que prega a tolerância mútua entre as várias religiões, as quais através dos
tempos serviram – e ainda servem - como justificativa para tantas guerras.
Senti-me totalmente identificado com a ideia de liberdade religiosa, pois, para
mim, isto deveria incluir não só a possibilidade de cada um escolher a religião
que quisesse, mas também o direito de escolher não ter nenhuma religião e não
acreditar em Deus - e não ser discriminado por isso. Que ingenuidade a minha!
Cheguei lá na caminhada,
todo animado, vestindo uma camiseta com a inscrição “Ateu, graças a Deus”. Mas
parece que fui mal compreendido. Depois de inúmeros olhares ameaçadores e
insultos à minha querida mãezinha, tive que sair correndo para não ser vítima
do primeiro linchamento ecumênico da História. Contudo, apesar do susto, pude
ver um lado positivo nesse episódio: pelo menos ele me fez recordar a minha
doce e saudosa infância, quando meus pais momentaneamente paravam de brigar um
com o outro e se uniam contra mim.
19/09/2011