Através dos tempos, tivemos
os inquisidores da Idade Média, os nazistas, os stalinistas e os torturadores
do regime militar brasileiro, entre muitos outros de não muita saudosa memória.
Mas, em termos de crueldade, ninguém supera as ex-esposas.
Infelizmente meu inexorável
destino era mesmo ser vítima da crueldade delas. Afinal, enquanto grande parte
das pessoas sonha em se casar um dia, desde criança o meu desejo sempre foi me
divorciar. Tendo assistido de camarote ao desastroso casamento dos meus pais,
separados apenas pela morte, o divórcio tornou-se uma obsessão para mim. Eu
precisava ir além, realizar o que meus pais jamais conseguiram. Jurei para mim
mesmo que me divorciaria pelo menos uma vez na vida, ainda que, para isso,
fosse preciso antes me casar!
Se foi só por isso que me
separei de minha terceira esposa? Não, claro que não. Quem me dera! Você quer
que eu liste os 117 motivos em ordem alfabética, cronológica ou de gravidade?
‘Tá bom, não vou falar em todos, contarei apenas dois ou três fatos. Por
exemplo, eu esperava ouvir dela frases como “eu te amo”, “estou com saudades”
ou, pelo menos, “o jantar está na mesa”. Até ouvi essas coisas no primeiro ano,
mas depois ela só me dizia “você não faz nada direito!” - e ainda falava que eu
não deveria encarar essa observação como uma crítica. Além disso, parecia que o
que dava mais prazer a ela na vida era me irritar. A princípio, tentava fazer
isso xingando minha mãe. Mas, como eu fazia coro com os xingamentos, ela então
apelava, falando mal do Flamengo. Aí não dava para aguentar!
O fim mesmo do nosso
casamento foi quando, no auge da raiva, ela me disse aos berros: “Você não é o
Woody Allen!”. Até hoje não entendi bem o que ela quis dizer com isto, mas,
mesmo assim, me senti profundamente ofendido. Só sei que havia muito tempo que
ela não achava mais graça nas minhas piadas. Assim, confrontado com a minha
própria mediocridade pela pessoa que, supostamente, deveria me amar e admirar,
percebi que estava tudo acabado. Quando, num relacionamento, o humor vai
embora, o amor segue o mesmo caminho. Ou vice-versa.
Mas não vou ficar aqui
difamando a mãe do meu filho. Ela é, sem dúvida, uma mulher de grandes
qualidades. Por exemplo, adora estudar. Entrou para diversas faculdades:
física, direito, medicina, história, teologia e, novamente, direito. (Pois é,
eu não faço nada direito, mas, volta e meia, ela faz...) Terminou algumas,
outras não, mas está sempre estudando. Como exigir que uma mulher que estuda
tanto – e que sabe tão bem o que quer na vida – ainda arrume tempo para
trabalhar?!
Mas o pior ela me reservou
para após o fim do casamento, ao publicar um livro em que conta todas as
intimidades de nossa vida em comum, revelando ao mundo as minhas piores manhas,
manias e esquisitices. (A Scarlett Johansson deve ter lido e ficado chocada. Só
isto explicaria o fato de ela não ter respondido nenhuma das 117 cartas de amor
que enviei para ela.)
Pois é, como disse
Nietzsche, o casamento é o túmulo do amor. E se você, meu amigo, não quer ter
uma ex-esposa, nunca se separe ou, melhor ainda, nunca se case. Contrair
matrimônio é contrair a pior das doenças, que não se cura nem com o divórcio.
Não dizem que ex-mulher é para sempre?
18/10/2011